“Eu faço!” E nós como fica?
Fazem 34 anos que meu pai trabalha na mesma empresa. Por 25 anos ele é gestor de uma equipe com mais de 20 pessoas. Observando o trabalho dele, principalmente na época que trabalhei nessa empresa, mas em outro departamento, percebi que ele nunca faz referência para algum serviço ou procedimento executado na sua rotina de trabalho descrevendo algo como “eu trabalho dessa forma…” ou “eu faço desse jeito…”, mas sempre “nós trabalhos assim…” ou “nós fazemos dessa maneira…”. Meu pai é consciente que ele sozinho, sem a dedicação e a força da equipe, não conseguiria coisa alguma, ao mesmo tempo que a equipe, sem o conhecimento e a orientação dele, possivelmente também não conseguiria um bom resultado. Outro ponto que admiro é que durante todos esses anos nunca ouvi ele referenciar a equipe que gerencia como “minha equipe”, mas sempre, “nossa equipe”. É uma maneira acolhedora para falar sobre as pessoas com quem ele trabalha e acho isso fabuloso.
Meu primeiro emprego foi quando eu tinha 17 anos (faltavam 2 meses pra completar 18 quando comecei um estágio) e hoje com 23 anos, já passei por três empresas. Não tive muitos gestores diretos, basicamente um ou dois em cada empresa, mas minha habilidade de observação e identificação de situações “por tabela” sempre ajudaram na percepção de muitas coisas que julgo erradas. Um exemplo são as situações que descrevi no início do texto. Alguns gestores tem o terrível hábito de carregar somente consigo os méritos pelos resultados da sua equipe. Não compartilham com os demais e quando são perguntados sobre a forma como trabalham, colocam o “eu” em primeiro lugar, esquecendo dos seus subordinados.
Felizmente nas equipes pelas quais passei, incluindo a que faço parte atualmente, isso nunca foi comum, e sempre que acontecia, muitas vezes as próprias pessoas percebiam seus erros ao relatar tal situação. Mas seguindo o que comentei, observando as demais equipes ao redor, ao longo dos anos, já presenciei gestores levando todo o mérito pelo trabalho da sua equipe, sem ao menos tentar privilegiar o seu time ou de alguma maneira dizer que eles também são responsáveis pelos resultados celebrados. Concordo que não estou em posição de dizer o que é certo ou errado no âmbito de gestão, mas tem coisas na vida que não precisamos estudar durante anos e viver por mais alguns pra defender e saber quando alguém está certo ou errado.
A vida e a vontade de viver
Sempre que alguém morre de forma repentina fico bastante impressionado. “Bá, fulano morreu! Até ontem ele estava bem e tal…”. Foi assim com a morte do ex-político e ex-candidato a presidente, Eduardo Campos, na semana passada. Uma noite antes do acontecido ele estava sendo entrevistado no Jornal Nacional, o telejornal mais famoso do país. Na noite do acontecido, a mesma dupla, William Bonner e Patrícia Poeta, quem havia entrevistado o cara, anunciava a sua morte.
Ontem eu passei mais de 3 h e 30 min aguardando atendimento na emergência de um hospital (por incrível que pareça, um hospital particular). Estava mal da gripe, forte dor de garganta, e pra completar, sem voz. Precisava de um apoio médico, além de medicação. Enquanto esperava, fiquei observando as pessoas ao redor. Prestei atenção em uma senhorinha, provavelmente com seus 80 e poucos anos, aparentemente acompanhada da filha. Ela estava aguardando por um leito. Provavelmente iria passar por algum tratamento intensivo ou algo do tipo, o que necessitava de internação, pois não parecia estar tão ruim assim, inclusive comentava ironicamente, brincadeira mesmo, com um e com outro sobre a demora excessiva nos atendimentos. Fiquei intrigado com uma pasta de plástico transparente, repleta de documentos e exames que a filha dessa senhora carregava. Comecei a imaginar a luta pela qual as pessoas passam na intenção de viver um pouco mais. Pensei em quantos exames essa mulher já precisou fazer. Quantos raio X, ultra-sons ou ressonâncias? Talvez até use algum marca-passo para monitorar o coração ou um cateter para aplicação direta de medicação.
E esse é apenas um exemplo. O pior é pensar em quantos milhares e milhares e pacientes lutam diariamente pela vida. Sofrem pela angustia da morte. Resistem e querem viver a mesma vida que pode ser apagada em um piscar de olhos, acabando com a tripulação inteira de um avião, gente que estava saudável, e sem esperar, no desenrolar de poucos segundos, tem sua vida interrompida.